Sempre a sombra dos gigantes
Nacional e Peñarol, Defensor soma histórias de superação e conquistas
O clube que venceu a ditadura no futebol é um grande orgulho para sua pequena torcida de Montevidéu (Foto:http://impedimento.org). |
A equipe violeta de Montevidéu,
carrega em sua história, marcas de luta contra as dificuldades financeiras e o
domínio da dupla Nacional e Peñarol em quase toda história do futebol uruguaio.
O maior orgulho desta torcida, porém, é relembrar os anos 70, quando a equipe
praticamente sozinha acampou a luta contra a ditadura militar no Uruguai.
Fundado em 1913, por Nicolas
Podestá, o clube nasceu inspirado em um time de operários de uma fábrica de
vidro, do bairro de Puenta Carretas em Montevidéu, chamado Defensores de la
Huelga. A princípio a equipe seria verde, mas o único uniforme disponível na
loja de esporte do bairro era o violeta e então Defensor Foot Ball Clube ganhou
sua tradicional coloração que o acompanha até os dias atuais.
Ainda na era amadora do futebol uruguaio iniciou a disputa da terceira divisão em 1913, subindo a segunda em 1914 e a primeira em 1915, mesmo ano em que terminou na quarta colocação da Copa Uruguaia. Em 1917, porém, após vencer um jogo que foi anulado a favor do Nacional de Montevidéu, a equipe foi rebaixada e encerrou suas atividades no ano seguinte, direcionando seus jogadores para uma equipe chamada Universal FC.
O retorno aconteceu em 1922 com
outra nomeação, Defensor Atlético Clube, e durante esta década o time andou
entre a primeira e segunda divisão amadora sem muito sucesso. Novamente em
detrimento ao clube e favorecimento aos gigantes uruguaios, o Defensor teve de
sair de seu estádio localizado no Parque Ricci e se mudar para o bairro Videla
Alarcón, uma vez que o Peñarol construiria em Ricci seu estádio particular.
Durante as décadas de 30, 40 e 50
disputou a primeira divisão uruguaia, menos no ano de 1950 quando caiu à
segundona. A história de conquistas do clube, porém, se iniciou em 1957 quando
a equipe terminou na terceira colocação do nacional e ganhou o torneio
quadrangular General Artigas.
Na década de 60, o clube foi comandado pela histórica família Franzini, através de Juan Carlos Franzini e
Luiz Franzini (atual nome do estádio do clube, construído durante sua gestão e
inaugurado em 1963). Um ano depois de construir seu estádio, um novo golpe, a
equipe voltou a ser rebaixada e entrou em grave crise financeira, porém,
resistiu as dificuldades da época e conseguiu se manter no profissionalismo
entrando para a história na década de 70, onde definitivamente se firmou com um
clube vencedor.
Anos de ouro e luta contra
ditadura:
Nos anos 70, com o país em plena
ditadura, Nacional e Peñarol equipe populares que, portanto, eram os times
preferidos do governo, recebiam mais patrocínios e até ajuda das arbitragens,
mantendo a hegemonia do futebol uruguaio na era profissional.
Foi precisamente em 1976 que o
Defensor entrou para história do país. Em um campeonato de cartas marcadas, entre os gigantes Peñarol e Nacional, o Defensor até então com apenas três
títulos oficiais (dois da segunda divisão local) ousou com um time jovem
comando pelo técnico José Ricardo de Léon, que tinha como revelações Mario
Patrón e Jorge Franzini, vencer a competição nacional.
Time de 1976, inesquecível para a "hinchada" violeta (Foto: El Pais) |
Após a conquista os atletas
inspirados por seu treinador, deram a volta olímpica ao contrário (da esquerda
para direita) num gesto simbólico e histórico no pequeno estádio Luiz Franzini,
que significou o apoio a esquerda uruguaia que no final da década de 70 se fortaleceu e
derrubou o militarismo na década seguinte, com apoio maciço da população.
“O Defensor foi pouco a pouco avançando no campeonato e em determinados momentos aquele que parecia um objetivo utópico, começou a se transformar em realidade. Sobre um cenário político fechado, dominado pelos militares venceram aquele campeonato, dando a volta olímpica da esquerda para direita". conta o historiador uruguaio, Gerardo Caetano, em entrevista ao documentário Futebol nos tempos de Condor.
O treinador deste time, José
Ricardo de Léon, foi um dos poucos profissionais do futebol uruguaio, ou mesmo
personalidades, a encampar a luta contra o governo do ditador Juan
Bordaberry Arocena (líder militar uruguaio no período de 1971 há 1976),
comandando a equipe que conquistou seu primeiro título nacional com um ponto a
frente do Peñarol.
Homem de esquerda ele deixou de
assumir a seleção na década de 70 devido a não compactuar com as ideias dos
coronéis uruguaios que como em tudo no país, tinha forte influência no futebol,
em especial na AUF (Associação Uruguaia de Futebol).
Em 1976, a equipe de Léon venceu
ainda a Liguilla, garantindo vaga na Copa Libertadores onde debutou em 1977 e a
Copa Montevideana, que integrava diversos clubes de Montevidéu. O Defensor
venceria ainda mais duas Liguilas e três Copas Montevideanas antes de
conquistar o bi nacional em 1987 sem a sombra da ditadura militar em seus jogos.
O clube voltou a mudar de nome em
1989, quando houve a fusão entre o time de basquete Sporting Club Uruguaio e o
clube de futebol Defensor Atlético Clube, medida que trouxe mais força
financeira a instituição e aumentou seu patrimônio. Atualmente o Defensor
desenvolve trabalhos de base e rendimento em modalidades como o basquetebol e
atletismo, além do futebol.
Com o novo nome, o Defensor venceu
ainda as edições de 1991 e 2007/08 sendo atualmente tetra campeão nacional,
reconhecidamente uma das forças do futebol uruguaio e um celeiro de atletas.
Somente no último mundial sub-20 e sub-17 a equipe cedeu vários atletas para a
seleção nacional charrua. O Defensor revelou nestas competições jogadores de
grande destaque, como Diego Rolán, De Arrascaeta e Laxalt.
No basquetebol, o Defensor é uma
das forças continentais. Tendo 18 títulos nacionais, duas ligas uruguaias, dois
títulos sul-americanos e um mundial alcançados ainda na década de 50 com o nome
de Sporting Club Uruguaio. No atletismo a equipe conquistou cerca de 30 títulos
nacionais.
Libertadores
Ao todo, o clube soma 13
participações na maior competição continental das Américas. A melhor delas
acontece justamente neste ano, quando atingiu a semifinal após eliminar The
Strongest da Bolívia nas oitavas e Atlético Nacional da Colômbia nas quartas.
Na primeira fase a equipe terminou na primeira colocação num grupo que tinha
forças sul-americanas como Cruzeiro e Universidade de Chile, além do peruano
Real Garcilasso.
Os destaques da atual equipe são o
meia De Arrascaeta (negociado com o Galatasaray-TUR) e o brasileiro revelado
pelo Juventude, Felipe Gedoz atacante. Além do meia atacante ex- seleção
uruguaia e com passagens pelo futebol espanhol e italiano, Nicolas Oliveira de
36 anos.
Rivalidade
O maior rival da equipe na
atualidade é o Danúbio, no chamado clássico dos pequenos. Isto por que ambos os
clubes lutam pela alcunha de terceira maior torcida e força do futebol no país,
tendo vantagem em relação a torcida, segundo pesquisas do site MPC
consultoria, o Defensor com cerca de 38
mil torcedores contra 33 mil adeptos do Danúbio. Apesar disso, a maior rivalidade
em termos históricos é mesmo contra a dupla preferida da ditadura uruguaia
Nacional e Peñarol.
Ditadura no Uruguai
Assim como o Brasil, a ditadura se
instalou no Uruguai apoiada pelos Estados Unidos, com o pretexto da proteção do
estado perante o comunismo. O regime teve inicio em 1973 quando apoiado por
grupos de extrema direita, o então presidente Juan Bordaberry discursou no
rádio e na televisão, ao vivo, anunciando o inicio do governo militar.
O pretexto era a
necessidade de uma reforma constitucional que reafirmasse os princípios
republicanos- democráticos. Três dias depois, Bordaberry tornou ilegal a
Convenção Nacional de Trabalhadores, prendendo seus dirigentes. Entre outros presos pela ditadura estavam um
dos líderes militares de esquerda, Juan Mujica, atual presidente do Uruguai.
Bordaberry
seguiu no comando até 76, quando teve suas iniciativas rejeitadas pelos
próprios militares, perdendo assim o apoio dos mesmos. Alberto Demichelli
assumiu a presidência do país, governando-o por um ano, sendo sucedido por
Aparício Méndez que ficou no poder até o ano de 1981. Um ano antes, em
plebiscito, a população uruguaia descartou a constituição proposta e aos poucos
o Uruguai passou a ter uma lenta, mais real abertura política.
Em novembro de 1984, as
eleições democráticas voltaram a ser disputadas e o partido colorado através de
Julio Maria Sanguinetti venceu as mesmas, devolvendo o poder aos civis,
retirando o poder governamental dos militares após mais de 11 anos de ditadura.