segunda-feira, 16 de junho de 2014

Guerra das Malvinas: fútbol x football

Por: João Vitor Poppi

Conflito
As Ilhas Malvinas, situada no Atlântico Sul e com uma das menores densidades demográficas do mundo, foi o motivo da famosa Guerra das Malvinas e, consequente, ódio entre os países envolvidos. Resultado? Mais uma ação política tem reflexo no futebol!
Os conflitos tiveram largada no dia 2 de abril de 1982, quando as tropas da Argentina chegaram e atacaram as Ilhas ocupadas pela Inglaterra desde 1833. Naquele dia os soldados argentinos dominaram o local e o objetivo supostamente havia sido alcançado pelo regime militar: desviar o foco da população voltado para a grave crise econômica daquele período com um ato patriótico.
Os sindicatos suspenderam uma greve geral contra a Junta Militar, animando o governo argentino. Além da busca pela calmaria popular, o fato de na época existirem fortes indícios da existência de petróleo em Malvinas era algo muito atraente.
Os ingleses não compreendiam o real motivo da invasão dos sul-americanos: ''A Argentina vivia um momento difícil, de ditadura militar. Eram dois carecas lutando por um pente. Nós não tínhamos noção sobre onde ficavam as ilhas. A maioria achava que elas ficavam perto da Escócia'', expôs Tim Vickery, correspondente da BBC na América do Sul.
Um pouco mais de dois meses depois, no dia 14 de junho de 1982, a esperança dos argentinos caiu por terra. Apoiada diplomaticamente pelo Estados Unidos da América, que com seu serviço de inteligência militar informava as ações militares do inimigo, e com vantagem militar, a Inglaterra reconquistou as Ilhas Malvinas em um conflito que resultou em 600 mortos argentinos e mais de 250 britânicos.
O fim da Guerra com vitória britânica teve consequências opostas nos dois países. Se na argentina o regime militar enfraqueceu-se e com fortes manifestações populares o general Leopoldo Galtieri renunciou no mês seguinte, na Inglaterra foi elegido um herói, ou melhor, uma heroína: Margaret Thatcher. Ela, que viria a ser conhecida mais tarde como ''dama de ferro'', surpreendeu os sul-americanos com sua determinação ao ordenar a retomada das Malvinas, conquistando o apreço da população em geral.
(Foto: Getty Imagens)
Proibido falar Inglaterra
O time de vermelho, o adversário da Alemanha e até os piratas. Estes foram os termos que os radialistas argentinos, da rádio Rivadávia, usaram para se pronunciar sobre os ingleses na Copa de 1982, em um jogo contra a Alemanha.
As feridas pós guerra estavam abertas e a raiva contra a Inglaterra a flor da pele, pois aquele jogo ocorreu semanas depois da Guerra das Malvinas.

Vingança nas quatro linhas
Não demorou muito. No dia 22 de junho de 1986, sob um estrelado sol no México, Maradona fez o maior jogo de sua carreira e a adversária não poderia ser outra: a inimiga Inglaterra. Aquele jogo de Copa do Mundo teve em seu gramado a extensão do sentimento resultante da Guerra, prova disso é a declaração do camisa dez albiceleste no pré-jogo: ''Quando penso na Inglaterra não posso tirar da cabeça os meninos que morreram na Guerra das Malvinas''.
Esses 90 minutos proporcionaram ao futebol o gol de mão do ''Pibe de Ouro'', a famosa ''La mano de Dios'', que para muitos argentinos é um castigo aos ingleses, e nada mais nada menos que o gol mais bonito da carreira de Maradona, um dos memoráveis momentos do futebol mundial. Em dez segundo ele percorreu 60 metros, driblou seis adversários incluindo o goleiro e decretou a vitória dos hermanos por 2 a 1. Uma vitória com gosto de revanche argentina e que criou um vilão para os ingleses.

Persona non grata
Amado pelos argentinos, o ''Pibe de Ouro'' não é bem quisto na Inglaterra. Em 2011 Maradona foi ao estádio Craven Cottage, do Fulham FC, em Londres, tanto para observar seus compatriotas Aguero e Zabaleta, atletas da seleção argentina e do visitante Manchester City, quanto conhecer melhor o time londrino, pois ele era uns dos cotados a ser o novo treinador da equipe.
A ideia não foi das melhores. Assim que os torcedores do Fulham viram Maradona, que ainda caminhou no gramado do estádio com integrantes da direção do clube, foi entoado o grito de ''trapaceiro'' – claro, relembrando o gol de mão na Copa de 86 sobre a Inglaterra.
Maradona não teve paz na visita ao estádio inglês e o presidente do Fulham percebeu que não seria uma boa ideia colocar o argentino como treinador de seu clube.

Do Papa a seleção
No dia 7 de junho, em Buenos Aires, mais precisamente no lotado Monumental de Nuñez, a seleção argentina fazia seu último amistoso, contra a Eslovênia,  antes da embarcar para a Copa no Brasil. O resultado do jogo foi a abertura de um processo da FIFA contra a Associação Argentina de Futebol (AFA), por desrespeito a um artigo das Regras de Segurança em Estádios da entidade.
O motivo do transtorno foi a manifestação política dos jogadores argentinos, aproveitando os holofotes voltados para a despedida da seleção antes do Mundial, entrando em campo segurando uma faixa com os seguintes dizeres: ''As Malvinas são argentinas''.
Pensamento idêntico possuí o Papa. Pensamento idêntico talvez possua todo país. Jorge Mario Bergoglio, hoje papa Francisco, afirmou em 2012 que as Ilhas Malvinas eram um território "usurpado" e disse sobre as Ilhas: "São nossas".

Chile, o cúmplice
O duelo entre Argentina e Chile ultrapassa as barreiras esportivas, quando as duas seleções estão frente a frente o sentimento patriótico está em jogo. Tudo se explica, mais uma vez, pela Guerra das Malvinas.
Durante os conflitos que tiveram vitória inglesa sobre os argentinos, os chilenos serviram como base de apoio avançada para os bretões. A postura chilena foi fundamental para o sucesso dos soldados da rainha no continente sul-americano.
Depois deste ocorrido, nunca mais os jogos entre os albicelestes e a la roja foi como antes. A cada novos 90 minutos disputados, os argentinos veem uma nova chance de libertação da derrota na guerra e redenção de seu povo



Nenhum comentário:

Postar um comentário